Salute

Como eram os tempos antes da descoberta da insulina

A jovem Elizabeth Hughes tinha 14 anos, embora fosse bem pequena para a idade. Elizabeth era diabética. Mas, até o início dos anos 1920, não havia tratamento para esta doença.

O diabetes era combatido apenas através de uma dieta rigorosa. Isso, claro, era um problema, pois, para conter o avanço do diabetes e evitar a morte do paciente, era preciso que ele passasse fome – o que trazia outras tantas consequências.

Elizabeth não teve outra alternativa – precisou se submeter a uma dieta controlada, a única forma de tratamento então conhecida pelos médicos. O racional dessa terapia era tentar impedir que as taxas de açúcar no sangue aumentassem demais, o que poderia levar ao chamado coma diabético.

No verão de 1922, Elizabeth estava muito magra e fraca. De alguma forma, sua mãe ficou soube que o Professor Banting, no Canadá, tinha descoberto um novo remédio contra o diabetes.

Então, no dia 16 de agosto, o médico começou a aplicar as injeções de insulina na jovem paciente. Nas semanas que seguiram, Elizabeth começou a recuperar o peso e a disposição. Já em outubro, percebeu que tinha crescido. Como por milagre, pouco tempo depois, deixou o hospital e voltou para a escola.

Elizabeth Hughes, ao centro, no Toronto Daily Star em 1922. Dr. Frederick Banting está à direita. Foto: Thomas Fisher Rare Book Library/University of Toronto
“A nova cura da ciência leva a criança de Hughes à saúde.” A descoberta e o desenvolvimento inicial da insulina. Foto: Thomas Fisher Rare Book Library/University of Toronto
Elizabeth Hughes e sua mãe, Antionette, em 1918. Elizabeth, que já foi a criança diabética mais famosa dos Estados Unidos, recebeu doses precoces de insulina injetável. Foto: Thomas Fisher Rare Book Library/University of Toronto

Dezenas de milhões de pessoas, mundo afora, recebem suas doses diárias de insulina. Com isso, é possível controlar o avanço do diabetes, doença que já foi considerada uma sentença de morte. 

A insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas, é necessária para controlar os níveis de açúcar no sangue (conhecidos como glicemia). Por razões ainda não completamente conhecidas pela ciência, o organismo de algumas pessoas não produz esse hormônio em quantidade suficiente para manter o bom funcionamento das células.

Mas, como se deu a descoberta da insulina?

Qual foi o caminho percorrido pela humanidade até que chegássemos a essa forma tratamento do diabetes, preservando milhões e milhões de vidas ao longo da história? É o que você vai conferir nessa série de três artigos que estamos publicando em homenagem a essa fantástica descoberta.

Antes do século XX

As primeiras descrições de que se tem notícia constam de um registro sobre o diabetes em papiro, produzido no antigo Egito, por volta de 1.500 anos antes da Era Comum (1.500 A.C.). O termo “diabetes”, porém, só foi cunhado no século II. Aretaeus da Capadócia, um dos mais célebres médicos gregos antigos, descreveu um quadro clínico como um “fluxo interminável de água, como através de um sifão” (o termo diabetes tem origem grega e significa sifão) – pois os pacientes urinavam e/ou bebiam água incessantemente.

Os livros sagrados dos Vedas (séc. III-IV D.C.), do outro lado do mundo, também descrevem uma condição associada a uma urina doce, que atraia formigas e outros insetos. Mas foi somente a partir dos séculos XVI-XVII que se colocou o sufixo mellitus, para diferenciar esta condição do diabetes inspidus, outra doença que cursa com aumento da sede e da produção de urina, mas dessa vez associada à deficiência de outro hormônio, o hormônio antidiurético (ADH).

As ilhotas pancreáticas, que são a parte do pâncreas responsável pela produção de insulina, como veio a se saber depois, foram descritas pela primeira vez em 1869, por Paul Langerhans, que, no entanto, não chegou a propor nenhuma função para elas.

Alguns anos antes, em 1682, o médico suíço Johann Brunner verificou que a retirada do pâncreas causava aumento da sede (polidipsia) e da micção (poliúria), mas foi apenas em 1889 que a poliúria e a polidipsia foram relacionadas ao diabetes mellitus, pelos alemães Joseph von Mering e Oscar Minkowski.

Em 1900, um professor de patologia no Hospital Johns Hopkins, Eugene Opie, relatou a ocorrência de degeneração das células das ilhotas em pacientes humanos diabéticos. Um pouco depois (1901), em S. Petersburgo, o professor L.W. Ssobolew demonstrou que a interrupção do ducto pancreático de animais de laboratório poderia atrofiar o tecido exócrino do órgão (que produz as enzimas digestivas), sem no entanto afetar as ilhotas e sem provocar a perda de glicose pela urina (glicosúria).


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